Pensando nas possibilidades que uma pessoa possa ter na vida, cheguei à "Quinze Minutos". A história é simples: um homem muito cansado, carregando uma sela nas costas, encontra outro que lhe oferece quinze minutos para expressar seus sentimentos. Se ele conseguir comover os ouvintes, conseguirá ser absolvido das angústias do passado, caso contrário...
O insólito dessa história e o clima de um julgamento que toma conta da cena. O público, muito mais que mero ouvinte da trama, acaba sendo o responsável pelo julgamento dos quinze minutos.
Nunca gostei muito de peças com interatividade, mas enquanto escrevia essa história me pareceu que os personagens não conseguiriam resolver os problemas propostos sem que houvesse uma "ampliação" das perspectivas. Parece estranho o que escrevi, mas queria mesmo é que o público assistisse essa peça com um olhar mais envolvido que simplesmente daquele que vê um fato e não pode resolver o problema.
Por duas oportunidades foi feita a leitura dessa peça... gostei do resultado, mas não foi adiante. Talvez um dia alguém venha a montá-lo, mas acredito que sempre será um desafio novo, até porque, o público será um personagem importante e, novo a cada dia!
Acho que o que gosto, também, nesse texto é o humor ácido dos personagens - muitas vezes até dolorido -, mesclado com uma tentativa filosófica de explicar a angústica!!! É claro que não explico muita coisa, mas acaba tendo um sentido dúbio.
Uma das partes mais interessantes do texto é o monólogo que o personagem Lombard faz antes de Belchior ter os seus quinze minutos:
LOMBARD - (muito emocionado) Às margens dos rios Tigre e Eufrates, alguém surgiu com uma grande novidade e os habitantes daquele vilarejo acharam que nada mais poderia ser novo. Esse alguém, que a História fez questão de esquecer o nome, não disse muita coisa, mas o tempo também esqueceu... Muitos séculos depois, às margens do rio Nilo, esse mesmo homem reapareceu e tentou explicar o porquê dele estar ali, o porquê dele dizer aquelas poucas palavras. Ninguém quis ouvir e o homem tentou só mais uma vez. Às margens do rio Tâmisa, lá estava ele tentando explicar... (se corrige) não, explicar não; levar suas palavras, às poucas que poderiam modificar a existência da raça humana na Terra... algumas pessoas se aproximaram dele, parecia que o ouviam com a máxima atenção. Ele ficou horas falando... na verdade não eram tão poucas assim as palavras... ele tinha encontrado as pessoas que mudariam o mundo, elas já sabiam o segredo da existência e ele poderia dormir tranqüilo sem precisar vagar pelos tempos. Ao anoitecer, uma senhora chegou e foi conduzindo os ouvintes em silêncio, eles estavam tão quietos que o homem tinha certeza de que os corações deles estavam mudados, tinham sido tocados. O homem chegou para a senhora que estava conduzindo os ouvintes e disse: “A senhora está conduzindo pessoas novas, eles conhecem o segredo da existência e vão passar a divulgá-lo pelos tempos. Me ouviram a tarde inteira, mas a sabedoria estava nos últimos quinze minutos” A mulher sorriu caridosamente, olhou para o homem e disse: “Eles são surdos meu senhor, creio que não entenderam nada!” e se foi. O homem emudeceu, olhou ao redor e disse: “Aqueles que conseguirem se ver durante quinze minutos, tocarem e serem tocados... descobrirão o que eu disse a essa platéia”.
Disso não se deve tirar nenhuma lição mas, para entrar nos quinze minutos, são criadas portas que, muito mais que abrirem e fecharem, têm que ligar... Eu vou abri-las e, se essas pessoas que estiverem nelas não forem tocadas ao final dos quinze minutos, serei obrigado a fechá-las para o resto da vida. E, dentro dos quinze minutos em que a pessoa abriu seu coração, tudo que foi dito vai se tornar um fardo quase impossível de ser carregado. (pausa)
Eu não queria assim... os quinze minutos são assim... (respira fundo) Que se abram as portas.
Que ninguém, precise de quinze minutos em sua vida, mas se precisar...
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