Escrevi "Violência" no final de 1999. Depois de um ano extremamente complicado resolvi escrever algo que pudesse me deixar chocado. Na verdade não sei muito bem se queria fazer uma provocação a mim mesmo ou um desafio. Desde que comecei a escrever sempre fui movido por desafios e, tentar passar para o papel o que um imaginava ser "Violência" representava um desafio.
Logo que comecei a escrever a peça percebi que não se parecia muito bem com as demais que havia escrito. Os personagens jovens ainda continuavam em cena, mas a amargura e o desinteresse pela vida tinham aumentado.
Escrevi a primeira cena como se fosse para filmá-la.
CENA 1 – O BANHEIRO
UM RAPAZ ENTRA NUM BANHEIRO COLETIVO DE UMA PRAÇA, VAI ABRINDO A BRAGUILHA DE SUA CALÇA E DIRIGINDO-SE A UMA DAS PORTAS QUE ESTÁ ENTREABERTA. QUANDO APOIA SUA MÃO SOBRE A PORTA E A ABRE, LEVA UM SUSTO AO VER UMA GAROTA DE APROXIMADAMENTE 17 ANOS SENTADA AO LADO DA BACIA SANITÁRIA E COM A CABEÇA ABAIXADA ENTRE AS PERNAS. ELE PÁRA IMEDIATAMENTE DE ABRIR O ZÍPER DE SUA CALÇA E FAZ MENÇÃO DE VOLTAR...
RAPAZ - Desculpa, eu não sabia que tinha alguém aqui. (passa a fechar a porta lentamente)
CAMILA - (olhando para ele) Entra.
RAPAZ - (pára de fechar a porta)(sem jeito) Realmente eu não queria incomodá-la, não prestei atenção ao entrar aqui. Nunca eu invadiria o banheiro das mulheres.
CAMILA - Esse não é o banheiro das mulheres.
RAPAZ - (espantado) Não?
CAMILA - Não.
RAPAZ - (ainda mais constrangido) Será que eu teria que me dirigir a ele pra fazer xixi?!
CAMILA - (tirando o braço do vaso sanitário) Pode usar aqui.
RAPAZ - (sem jeito) Aqui?!
CAMILA - Eu invadi seu espaço, nada mais justo que você possa fazer o que tinha planejado, no lugar onde pretendia.
RAPAZ - Não sei...
CAMILA - Não se incomode comigo.
RAPAZ - É que...
CAMILA - Se você quiser eu fecho os olhos ou abaixo a cabeça.
RAPAZ - O problema é que espirra.
CAMILA - (sem dar importância) Vai fundo; só não vira o esguicho pra cá.
O RAPAZ SENTE UMA EXCITAÇÃO MUITO GRANDE E VAI SE APROXIMANDO DO VASO SANITÁRIO AO MESMO TEMPO QUE ABRE A BRAGUILHA DE SUA CALÇA. CAMILA, SEM DAR IMPORTÂNCIA AO ACONTECIMENTO, SIMPLESMENTE ABAIXA A CABEÇA DA MESMA MANEIRA QUE ESTAVA NO INÍCIO...
O RAPAZ, QUE ESTÁ DE COSTAS PARA A PLATÉIA, TIRA SEU PÊNIS PARA FORA E PASSA A FAZER XIXI, AINDA SENTE-SE MEIO CONSTRANGIDO MAS O DESAFIO O FAZ URINAR LENTAMENTE...
CAMILA, SEM DIZER NADA OU ESBOÇAR QUALQUER RECLAMAÇÃO COM RELAÇÃO ÀS GOTAS QUE ESPIRRAM, LEVANTA A CABEÇA LENTAMENTE E, NUM ÚNICO MOVIMENTO, PASSA SEU OLHAR PELO XIXI DENTRO DO VASO E EM SEGUIDA VAI SUBINDO PELO CORPO DELE ATÉ CHEGAR AOS SEUS OLHOS.
ELE FICA TÃO MAGNETIZADO COM O OLHAR DELA QUE MESMO TERMINANDO DE FAZER XIXI PERMANECE NA MESMA POSIÇÃO.
CAMILA - (indecifrável) Terminou.
RAPAZ - (totalmente envolvido) É?
CAMILA - Não estou ouvindo mais o barulho do seu xixi na água.
RAPAZ - É?
CAMILA - Você deveria fazer alguma coisa.
RAPAZ - E se eu lhe disser que não sei o quê.
CAMILA - Eu diria que um rapaz de 18 anos já deveria saber guardar seu pinto após o uso.
RAPAZ - Como você sabe que eu tenho 18 anos?!
CAMILA - 17 ou 19... que diferença faz!
RAPAZ - 18.
CAMILA - Já pode fazer o que quer da vida. (vai levantando-se e ficando a poucos centímetros do rosto dele, numa distância que possa sentir a excitação dele e ouvir sua respiração descompassada)
RAPAZ - Já.
CAMILA - E faz?!
RAPAZ - (incomodado com a proximidade dela) Nem sempre.
CAMILA - E quando não?
RAPAZ - Quase sempre.
CAMILA - Pois deveria mudar isso. (anda com seu rosto pelo dele e sutilmente toca seus lábios no dele)
RAPAZ - E se eu lhe disser que não sei como?!
CAMILA - Eu posso dizer que não acredito em você.
RAPAZ - E se eu não lhe disser nada?!
CAMILA - Eu desconfiarei de você.
RAPAZ - E daí?
CAMILA - Daí eu serei obrigada a te testar.
RAPAZ - (pela primeira vez move sua cabeça – lentamente – para tentar beijá-la) Teste?!
CAMILA - Um teste.
RAPAZ - Eu nunca fui bom em testes.
CAMILA - Eu nunca fui boa em testar.
RAPAZ - E eu faço...
CAMILA - ...guarda seu pinto.
RAPAZ - Não sei.
CAMILA - (pega o pinto dele – sem olhar para baixo, mas com total domínio – e, com muita naturalidade, o põe para dentro da calça) (após guardá-lo) Eu não entregaria o zíper de minha calça a um estranho.
RAPAZ - É um conselho ou uma ameaça?!
CAMILA - Uma preocupação com objetos preciosos; eu não me perdoaria se perdesse uma pedra bruta... com o tempo e uma boa lapidação ela se tornaria um diamante!
RAPAZ - E quem você me aconselharia a levá-la para ser lapidada?!
CAMILA - Eu nunca entrego informações de graça.
RAPAZ - Eu pago. (tenta beijá-la com um movimento rápido da cabeça mas ela tira seu rosto)
CAMILA - Eu tenho certeza que você paga.
CAMILA O ABRAÇA VIOLENTAMENTE, NUM MOVIMENTO TÃO RÁPIDO QUE ELE DEMORA ALGUNS SEGUNDOS PARA PERCEBER QUE ESTÁ SENDO BEIJADO. QUANDO PERCEBE, PELA PRIMEIRA VEZ CONSEGUE FAZER MOVIMENTOS COM SEUS BRAÇOS E A ABRAÇA, MAS NÃO A ACARICIA, APENAS A SEGURA COM FORÇA, COMO SE NÃO QUISESSE PERDER ESSE MOMENTO NUNCA MAIS NA VIDA. O BEIJO DELA É TÃO VORAZ QUE O DEIXA TOTALMENTE DOMINADO. ELA COMEÇA A PASSAR SUAS MÃOS PELAS COSTAS DELE E EM SEGUIDA POR SUA BUNDA, O SEGURA COM UMA FORÇA QUE PARECE QUE QUER ENTRAR DENTRO DELE. ELE ESTÁ QUASE EXPLODINDO DE EXCITAÇÃO E PASSA A DESCER SUA MÃO EM DIREÇÃO A BUNDA DELA.
QUANDO ELE SEGURA COM AS DUAS MÃOS NA BUNDA DELA, CAMILA PÁRA DE ABRAÇÁ-LO E COM SUAS DUAS MÃOS, SEGURA O ROSTO DELE E LHE DÁ UM BEIJO QUE PODERIA SUGAR SUA VIDA, EM SEGUIDA PÁRA E AFASTA SEU CORPO DO DELE UNS 30 CENTÍMETROS.
RAPAZ - (totalmente excitado e sem entender a reação dela) (quase sem fôlego) O que foi?!!!
CAMILA - (fria) Espera.
RAPAZ - Eu não te entendo.
CAMILA - Não tenta.
ELE PERMANECE ESTÁTICO, OLHANDO PARA ELA QUE VIRA-SE E LENTAMENTE VAI SE ABAIXANDO PARA PEGAR ALGO QUE ESTÁ ESCONDIDO ATRÁS DO VASO SANITÁRIO...
ENQUANTO ELA VAI SE ABAIXANDO ENCOSTA SUA BUNDA NO PINTO DELE E O FAZ PERDER O FÔLEGO, ELA NÃO DEVE FAZER ESSE MOVIMENTO INTENCIONALMENTE, MAS APENAS COMO UMA CASUALIDADE, NECESSIDADE DEVIDO TER QUE ABAIXAR-SE...
RAPAZ - (em êxtase) Você me mata!
CAMILA - (fria) Lamento!
CAMILA PEGA UM REVÓLVER ATRÁS DO VASO SANITÁRIO E AO MESMO TEMPO QUE PRONUNCIA ESSAS ÚLTIMAS PALAVRAS VIRA-SE E SEM ESPERAR QUE ELE VEJA A ARMA, ATIRA NELE. É UMA ARMA MUITO PODEROSA E FAZ UM BARULHO ENSURDECEDOR AO SER DISPARADA – DEVIDO TAMBÉM AO ECO DO BANHEIRO – E O JOGA NO CHÃO.
AO CAIR NO CHÃO ELE TEM SEU PEITO ESTOURADO E COMPLETAMENTE SUJO DE SANGUE...
ELA APROXIMA-SE DELE COM MUITA NATURALIDADE O OLHA E PARTE EM SEGUIDA SEM DIZER UMA PALAVRA...
E assim que a vi em cena, dirigida magistralmente pelo Fausto, percebi que ele tinha entendido os anseios das minhas personagens.
A cena inicial parecia ter saído diretamente da minha mente para o palco... mas estava melhorada... envolta numa dramaticidade que não consegui explicar.
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