sábado, novembro 11, 2006

AS IMAGENS DE "DELÍRIOS BLUES"

A reestréia de "Delírios Blues" serviu para podermos comprovar que estrávamos certos ao optar por aquele tipo de espetáculo focado ao público jovem.
Nas sessões que seguiram, sala lotada e, de fato, o público delirava. As opções da direção funcionaram perfeitamente e conseguimos apresentar um "vídeo clipe ao vivo", como propusemos.
Mas a montagem teve um alto preço: a produção era grande demais para ser encenada em qualquer teatro.
Depois da reestréia ela iria entra em cartaz em São Paulo, no Centro Cultural, mas como havia música ao vivo, e muito "pesada", tivemos problemas e não foi possível...
Depois, fomos para o Rio de Janeiro e havíamos acertado uma temporada na cidade, no entanto, mais uma vez, o tamanho da produção a inviabilizou...
"Delírios Blues" foi um sonho grande demais para os padrões de produção que tínhamos... no entanto, o mais importante nessa montagem foi a ter a certeza de que através daquela linguagem seria possível alcançar o público jovem...
Também, não posso deixar de lembrar das interpretações fantásticas de Isabel Cristina, Sandey Luís e Claudinei Brandão... Eles acreditaram no projeto desde o início e deram vida aos personagens que eu havia criado...
A direção segura de Massayuki também pode ser considerada como um dos fatores que possibilitaram com que "Delírios Blues" tivesse a cara que idealizamos... Bem, como havia dito, depois dessa peça acabei produzindo mais alguns textos com temática adolescente, mas os personagens de "Delírios Blues" talvez tenham crescido e sido revividos em outra peça minha com um triângulo amoroso: "Violência"... mas sobre essa falarei mais pra frente...
Queria deixar de recordação uma parte do texto que foi muito difícil de ser dirigida, mas que teve uma beleza cênica impensável... mérito para Massayuki:

UM FOCO DE LUZ ACENDE SOBRE CABELO, QUE ESTÁ SENTADO, ENCOSTADO NO ANDAIME (BEM ABAIXO DE PRETO)...

CABELO - Eu cansei de pedir. Enquanto pedia, todo mundo cuspia na minha cara. Quando passei a arrancar tudo a força, passaram a me respeitar! O Cabelo do inferno rouba até seu pai... o Demônio! (gargalha) (apaga o foco de luz)
PRETO - Essa noite podia ser bem longa pra gente se vingar de todo mundo. Até quem não tivesse culpa. (apaga o foco de luz)

UM FOCO DE LUZ ACENDE SOBRE VERMELHA, EM PÉ, NO CANTO DO PALCO, ONDE CABELO ESTAVA NO COMEÇO...

VERMELHA - Da polícia! (apaga o foco de luz)
CABELO - (acende o foco de luz) Do leiteiro! (apaga o foco)
PRETO - (acende o foco) Da padre! (apaga o foco)
VERMELHA - (acende o foco) Do camelô! (apaga o foco)
CABELO - (acende o foco) Do barbeiro! (apaga o foco)
PRETO - (acende o foco) Do presidente! (apaga o foco)
VERMELHA - (acende o foco) Da cafetina! (apaga o foco)
CABELO - (acende o foco) Do costureiro! (apaga o foco)
PRETO - (acende o foco) Do indigente! (apaga o foco)

CONFORME CONTINUAM FALANDO, DEVIDO A RAPIDEZ, OS FOCOS DE LUZ NÃO CONSEGUEM ACOMPANHÁ-LOS; COM ISSO, AS LUZES FICAM “PISCANDO” E “CORRENDO” ATRÁS DE QUEM ESTÁ FALANDO...

VERMELHA - Da santa!
CABELO - Do santo!
PRETO - Da igreja!
VERMELHA - Do demônio!
CABELO - Do diabo!
PRETO - Do inferno!
VERMELHA - Do céu!
CABELO - Do mar!
PRETO - Da terra!
VERMELHA - Do pai!
CABELO - Do filho!
PRETO - Do espírito santo!
VERMELHA - Da miséria!
CABELO - Da fome!
PRETO - Da dor!
VERMELHA - Do sangue!
CABELO - Da doença!
PRETO - Da dor!
VERMELHA - Da dor!
CABELO - Da dor!
PRETO - Da dor!
VERMELHA - Do meu pai! (o foco de luz fica aceso nela)
CABELO - Do meu pai! (o foco de luz fica aceso nele)
PRETO - Do meu pai! (o foco de luz fica aceso nele)
VERMELHA - Da minha mãe!
CABELO - Da minha mãe!
PRETO - Da minha mãe!
VERMELHA - Da falta deles!
CABELO - D’eles existirem!
PRETO - Não nos aceitarem!
VERMELHA - Da vida!
CABELO - Da morte!
PRETO - Da gente!


AS LUZES SE APAGAM.

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