
No entanto, o tamanho dos nossos sonhos nos levou a caminhos demasiadamente complicados. Primeiramente decidimos fazer a trilha sonora da peça ao vivo, com uma banda tocando sobre os andaimes que compunham o cenário.
Sobre o cenário é preciso dizer que ele era realmente imponente. Vários andaimes de 3 metros de altura sobre o palco para que se parecesse com uma fábrica em construção, ou, quem sabe, sustentando o que daquilo restava... uma carcaça de automóvel... vários latões de ferro... pilhas de jornais... um local muito sujo que lembrava cenários de revistas em quadrinho - nossa inspiração original.
Para que os ensaios transcorressem tivemos que utilizar um galpão... os ensaios musicais sempre foram muito difíceis, no entanto, a banda superou-se e auxiliou na composição dos arranjos das músicas.
Trabalhar com som ao vivo demanda uma aparelhagem muito boa, senão o espetáculo corre o risco de não acontecer. Essa lição demoramos um pouco para aprender.
Para a estréia no teatro Polytheama, em Junidiaí/SP, tivemos mais de 1200 espectadores... um público dificilmente visto para produções teatrais locais ou de fora. A propagando do espetáculo foi perfeita e todos queriam ver "a peça de ação", o "vídeo clipe ao vivo"!
Mas as coisas não saíram exatamente como o esperado. O equipamento de som deu problema e, como os atores também utilizavam microfones durante a peça... foi terrível... Um pesadelo que nunca deveria ter acontecido! Toda a concepção visual do espetáculo foi comprometida pelo problema com o som.
E pensar na dedicação dos atores que treinaram rapel, tirolesa, canto... fizeram preparo em academia para criar as perseguições entre os andaimes... tudo isso deu errado quando o som falhou...
Mesmo assim, eu e o sandey ainda acreditamos no projeto... saíamos que havia sido apenas um problema localizado, que assim que fosse resolvido, teríamos condições de mostrar ao público o grande espetáculo que idealizamos!
Depois da estréia tivemos que parar por algum tempo e o Claudinei acabou entrando em mais uma produção do Parlapatões... era uma perda difícil de substituir porque ele havia criado tão bem o personagem que, ao invés de Careca, tornou-se Cabelo.
Mas em pouco mais de dois meses o espetáculo reestreou e, como eu havia participado de todo o processo de ensaios, acabei assumindo o papel do Claudinei... substituindo-o, mas utilizando toda sua criação...
A estréia foi esquecida e "Delírios Blues" aconteceu!
Essa é uma das músicas mais linda composta pela Isabel Cristina, cantada por Preto e pelo vocalista da banda, Marcelo:
“Quem amou a semente nua
que a rua enlaçou
e fez calar seu canto
e tanto pranto rolou
não bastou... (2x)
Quem sentiu
a veia cheia de veneno e amor
no despertar da flor
rasgada,
suja,
feia,
não conheceu sua cor.
Quem ouviu numa lenta agonia
o soluçar contido da vida vazia e fria
que a noite estancou
não parou...
E amanheceu
o dia, o dia, o dia
mas ninguém notou
e nem poderia entender a dor
mas veria Vermelha,
morta no asfalto,
a flor...”
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