segunda-feira, novembro 06, 2006

DA ESTRÉIA CAÓTICA À RECUPERAÇÃO

Lembrar de "Delírios Blues" é perceber como um projeto pode ser tão prazeroso e, ao mesmo tempo, caótico! Bom, nossa ambição ao produzir essa peça era de que pudéssemos fazer algo grandioso para, em seguida, seguirmos numa temporada regular em São Paulo e Rio de Janeiro.
No entanto, o tamanho dos nossos sonhos nos levou a caminhos demasiadamente complicados. Primeiramente decidimos fazer a trilha sonora da peça ao vivo, com uma banda tocando sobre os andaimes que compunham o cenário.
Sobre o cenário é preciso dizer que ele era realmente imponente. Vários andaimes de 3 metros de altura sobre o palco para que se parecesse com uma fábrica em construção, ou, quem sabe, sustentando o que daquilo restava... uma carcaça de automóvel... vários latões de ferro... pilhas de jornais... um local muito sujo que lembrava cenários de revistas em quadrinho - nossa inspiração original.
Para que os ensaios transcorressem tivemos que utilizar um galpão... os ensaios musicais sempre foram muito difíceis, no entanto, a banda superou-se e auxiliou na composição dos arranjos das músicas.
Trabalhar com som ao vivo demanda uma aparelhagem muito boa, senão o espetáculo corre o risco de não acontecer. Essa lição demoramos um pouco para aprender.
Para a estréia no teatro Polytheama, em Junidiaí/SP, tivemos mais de 1200 espectadores... um público dificilmente visto para produções teatrais locais ou de fora. A propagando do espetáculo foi perfeita e todos queriam ver "a peça de ação", o "vídeo clipe ao vivo"!
Mas as coisas não saíram exatamente como o esperado. O equipamento de som deu problema e, como os atores também utilizavam microfones durante a peça... foi terrível... Um pesadelo que nunca deveria ter acontecido! Toda a concepção visual do espetáculo foi comprometida pelo problema com o som.
E pensar na dedicação dos atores que treinaram rapel, tirolesa, canto... fizeram preparo em academia para criar as perseguições entre os andaimes... tudo isso deu errado quando o som falhou...
Mesmo assim, eu e o sandey ainda acreditamos no projeto... saíamos que havia sido apenas um problema localizado, que assim que fosse resolvido, teríamos condições de mostrar ao público o grande espetáculo que idealizamos!
Depois da estréia tivemos que parar por algum tempo e o Claudinei acabou entrando em mais uma produção do Parlapatões... era uma perda difícil de substituir porque ele havia criado tão bem o personagem que, ao invés de Careca, tornou-se Cabelo.
Mas em pouco mais de dois meses o espetáculo reestreou e, como eu havia participado de todo o processo de ensaios, acabei assumindo o papel do Claudinei... substituindo-o, mas utilizando toda sua criação...
A estréia foi esquecida e "Delírios Blues" aconteceu!
Essa é uma das músicas mais linda composta pela Isabel Cristina, cantada por Preto e pelo vocalista da banda, Marcelo:

“Quem amou a semente nua
que a rua enlaçou
e fez calar seu canto
e tanto pranto rolou
não bastou... (2x)
Quem sentiu
a veia cheia de veneno e amor
no despertar da flor
rasgada,
suja,
feia,
não conheceu sua cor.
Quem ouviu numa lenta agonia
o soluçar contido da vida vazia e fria
que a noite estancou
não parou...
E amanheceu
o dia, o dia, o dia
mas ninguém notou
e nem poderia entender a dor
mas veria Vermelha,
morta no asfalto,
a flor...”

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