domingo, novembro 12, 2006

VOCÊ TEM VISTO A CHUVA?

Em 1998, enquanto estava em cena com a peça "Delírios Blues", resolvi experimentar outra linguagem dentro do rol da ficção. Já tinha escrito alguns contos antes de "Você tem visto a chuva?", mas para participar do concurso criado pela Coordenadoria de Cultura da cidade de Jundiaí resolvi que teria de fazer algo especial.
Eu sempre gostei da temática da "amizade", tinha escrito várias peças com essa abordagem, mas para o conto resolvi que faria algo que privilegiasse a ingenuidade... e a descoberta.
Escrevi uma história simples de um pré-adolescente apaixonado... nada mais simples... mas conseguiu alcançar certeiramente nos jurados do concurso devido a sua carga emotiva e humor.
Gostei muito do resultado e tive a felicidade de ter o conto incluído no livro editado com o melhores contos daquele concurso...
Convido vocês a reviverem alguns bons momentos da pré-adolescência junto com esse personagem que criei... e perceber como um filme poder ser o diferencial em alguns momentos.

VOCÊ TEM VISTO A CHUVA?

Por quase um segundo não havia entendido o que estava por acontecer comigo naquela noite; tudo sucedeu de uma forma tão nova que quando dei conta lá estava eu olhando para uma tela de cinema sem entender exatamente como havia chegado ali. Ter ou não legendas era um mero detalhe que não me dizia nada, olhava para a tela e via pessoas estranhas movimentando suas bocas sem que nenhum som saísse dali.
Nem sabia qual era o filme, mas quem estava ao meu lado tinha certeza. Por uma brincadeira convidei a menina mais linda da escola pra ir ao cinema comigo... e o mais estranho: ela aceitou. Fiquei contando os minutos para que a hora logo chegasse; quando chegou, quase não tive forças para passar em sua casa. Minhas pernas tremiam tanto que às vezes tinha impressão que iria cair.
Para apertar a campainha de sua casa fiquei quase dez minutos ensaiando o “boa noite”, caso sua mãe atendesse. Nesse ponto tive sorte e ela mesma atendeu, menos um problema. De sua casa até o cinema preferimos ir a pé, não era muito longe, uns dez ou doze quarteirões. A sessão seria às sete e meia da noite, daria para chegar com tempo de sobra.
No caminho tinha muita dificuldade em puxar assunto; coisa estranha pra mim que sempre fui extrovertido; por alguma razão que até então não havia detectado, cada vez que olhava pra ela minhas mãos suavam e um calor subia pelo meu corpo. Ela também não fez muita questão de facilitar nossa vida; até a metade do caminho não pronunciou uma única palavra. O único pensamento que me passava pela cabeça, fora a sacanagem que era de praxe, era “como aquelas horas passariam se a gente não falasse sobre nada!”. E talvez um pensamento pior também vinha à minha cabeça: “o que ela diria as suas amigas no dia seguinte!”; quanto a mim, não tinha preocupações, acontecendo ou não alguma coisa, as mentiras com detalhes e tudo já estavam preparadas.
Quando passamos próximo à casa de sua tia, fui olhar algo que ela havia me mostrado. Tinha que aproveitar para puxar conversa, mas por infelicidade do destino tropecei num buraco na calçada e caí, torci o pé e pensei que fosse morrer de dor. Quando ela se abaixou para me ajudar e perguntou como me sentia e se queria que chamasse sua tia para me levar ao médico, no mesmo instante levantei e disse que não tinha sido nada. Seria difícil enganá-la até o cinema, mas eu estava disposto a isso. Lá eu poderia sentar-me e a dor melhoraria. Foram mais seis quarteirões mancando como um ferido de guerra, mas com um sorriso de quem acaba de receber uma condecoração por honra e bravura.
Volta e meia ela perguntava de meu pé e era nesses momentos que a coisa ficava mais difícil; eu tentava de toda forma parar de mancar, a dor aumentava e eu ficava parecendo uma mula manca. Por incrível que pareça, em alguns momentos poderia jurar que não estava mancando e, se, por ventura estivesse, seria algo de uma sutileza que pouca gente poderia perceber.
Ela estava preocupada comigo e isso de alguma forma fez com que começasse a puxar conversa. Primeiro falamos de sua prima, depois de seu primo, depois de suas tias, seus avós, seus pais, e quando pensei que entraria nos meandros de sua árvore genealógica, perguntou de mim. Pergunta difícil vinda de uma menina e dirigida a uma pessoa que tinha somente doze anos de história.
Não tinha nada para ser dito, pelo menos nada que pudesse impressioná-la. Primeiro falei de uma partida de futebol na qual havia marcado quatro gols e o quanto isso fora importante porque na posição que jogava, lateral esquerdo, isso dificilmente acontecia. Ela ouviu e não demonstrou muito interesse nesse tipo de assunto, sorriu, isso ela fez durante a explanação. E mais, além de sorrir disse “Noooossa!”.

Não tinha visto qual filme estava em cartaz no cinema quando saí de casa, tudo tinha acontecido de uma maneira tão rápida que esqueci desse detalhe. Quando chegamos, de longe notei que alguma coisa estava errada, havia uma grande fila na porta. Não era uma fila comum, somente casais, garotos como nós, só que um pouco mais velhos.
“PARADISE”, estranho como um nome fica gravado em nossa memória; esse nunca mais saiu depois que o li pela primeira vez. Era o nome do filme e a censura estava indicando quatorze anos; a situação ficou complicada pois além de mancar, passei a tremer novamente. Acho que pagaria para ver alguém nessa mesma situação só pra poder rir como os outros riam de mim. Quando aqueles garotos mais velhos me viram, não fizeram questão de esconder; riram escandalosamente. Eu, como sempre, fingia não ser comigo. Minha amiga ficou preocupada, pois não tínhamos idade para assistir ao filme e poderíamos ser barrados. Eu a tranqüilizei dizendo que a bilheteira era minha amiga. Juntos, entramos na fila e os casais não paravam de chegar.
Quando chegou minha vez de comprar os ingressos, pedi dois e a mulher da bilheteria olhou bem na minha cara e pediu nossos documentos. Eu dei um sorriso, olhei seu nome no crachá e disse:
- Você não se lembra de mim, Dirce?! – ao mesmo tempo peguei minha carteira de estudante e uma nota de cem e a entreguei. Ela deu um sorriso e me entregou as entradas. Lá tinha ficado minha mesada e aquele mês seria a maior dureza, mas esse primeiro obstáculo já tinha ficado para trás.
Quando fomos passar pela catraca, pela primeira vez tivemos um contato mais íntimo. Coloquei minha mão em seu ombro e por aproximadamente dois segundos e alguns milésimos pude sentir o pulsar de seu corpo.
Seria uma noite dura, meu dinheiro tinha ficado todo na bilheteria e não sobrou nem pra pipoca ou refrigerante. A sorte foi que logo fomos entrando na sala de projeção e não permitiam que nela se entrasse com comestíveis.
A bem da verdade, disse que minha mãe havia me aconselhado a não comer porcarias fora de casa porque muitas vezes uma má alimentação pode causar danos irreparáveis ao sistema digestivo. Papo extremamente indigesto para quem tem doze anos, mas na hora foi o único que surgiu.
Ela era linda: loira, olhos azuis e uma pele que dava vontade de não parar de beijar, parecia pele de boneca. Não que eu tivesse experiência nesse assunto, apenas sabia o que diziam, mas no fundo ela era a pessoa mais linda que eu tinha visto.
Passaram os trailers e quando o filme ia começar olhei para trás e já vi que aquela sessão seria muito diferente das outras às quais vinha com meus amigos. Os casais que antes eram dois, agora, de tão abraçados, pareciam uma única pessoa. E os barulhos dos beijos!!! Realmente não seria uma sessão normal.
Ligaram o ar condicionado, mas em mim tudo acontecia ao inverso, o maldito calor que volta e meia subia pelo meu corpo parecia ter se instalado para sempre. Num momento me aproximei um pouco mais e senti seu perfume. Era diferente, perfume de mulher. Não era doce e enjoativo, era extremamente refrescante, dava a impressão de que ela havia acabado de sair do banho. Não que eu tivesse tido a oportunidade de ver uma mulher sair do banho, mas isso ficava por conta do meu imaginário.
Até o meio do filme nem fiz questão de olhar para a tela; como disse, parecia que os atores simplesmente moviam os lábios e nenhum som saía da boca, que as legendas estavam escritas em outra língua e tudo mais. Mas houve uma cena em que mudou tudo: de uma hora pra outra passei a entender a legenda e podia jurar que até o inglês que falavam. De repente, os dois jovens do filme se encontraram num paraíso perdido e passam a se descobrir. Junto com uma menina, pela primeira vez estava vendo uma mulher nua na tela. E não ficou só nisso, eles se beijaram e mais pra frente até transaram.
Tenho certeza que muitos naquela platéia nem chegaram a ver o filme, adiantaram os acontecimentos... mas eu via e sentia algo que me causava uma vergonha imensa e ao mesmo tempo uma excitação incontrolável. Houve um momento em que chegamos a nos tocar, quando ao mesmo tempo tentamos colocar nossos braços no braço da poltrona. Fiquei tão envergonhado com a reação que tive, que imediatamente retirei a mão da poltrona e coloquei sobre meu colo para esconder o que quer que pudesse sobressair em minha roupa.
Terminou o filme e senti que tinha envelhecido pelo menos uns dois anos, aquilo havia servido como aula. Tinha sido muito mais interessante que os filmes pornôs os quais tinha assistido com meus amigos. Na verdade não vi nada de tão forte assim, mas estava com ela e isso foi diferente. Eles não transavam somente por transar, era muito diferente de tudo o que haviam me dito.
Não falamos nada enquanto saíamos do cinema. No hall, ela virou-se pra mim e quase fez com que eu tivesse um ataque cardíaco. Mas não era nada, simplesmente perguntou se não seria melhor irmos embora de ônibus, pois o tempo estava instável e poderia chover. Como dizer que não tinha dinheiro?!!! Disse que não, que a noite estava linda e não havia risco, até porque poderíamos ir embora conversando que logo chegaríamos.
Mesmo em dúvida ela resolveu aceitar e lá fomos nós. Logo no início da caminhada os relâmpagos começaram a nos acompanhar. Ela olhava pra mim e eu sorria. Que conversa nada; realmente não estávamos preparados para falar qualquer coisa a respeito daquele filme. Entramos por engano e aquele universo para onde havíamos sido catapultados era distante demais de nossas realidades. Como falar de sexo, amor, paixão, se ainda pensava em o que era uma camisinha, se o maior prazer que conhecia era a masturbação e a ela me dedicava com afinco.
Quando estávamos passando por uma escola infantil onde havíamos estudado quando crianças, a chuva caiu de uma maneira tão violenta que a única coisa que nos restou foi pular o portão e nos esconder dentro da escola. Eu a ajudei, mas mesmo assim nos molhamos bastante. As salas de aula eram muito no fundo do terreno, por isso entramos numa casinha de madeira que ficava bem no centro do parquinho.
Pela janela da casinha entrava a luz dos postes da rua. A vergonha que sentia naquele momento era algo indescritível; só pensava no porquê daquilo ter acontecido comigo! Por que a chuva fez questão de cair naquele exato momento?! Por que estragar algo que mal havia começado?!
Um silêncio imperou por alguns minutos, quando não dava mais pra sustentar, disse:
- Desculpa.
Ela nem olhou pra mim e permaneceu hipnotizada pela chuva e pela luz da rua. Senti-me acabado, humilhado pela situação. Essa também era uma sensação nova pra mim. Até a pouco, uma menina não tinha tanta importância assim na minha vida... Quando não tinha mais o que fazer, ela, sem olhar pra mim, disse:
- Você gostou do filme?
Aquela pergunta não; eu não estava preparado pra respondê-la. Só podia ser maldade. Eu sabia tudo sobre futebol, vídeo game, basquete, até sobre geografia, mas isso não... fiquei quieto e ela continuou:
- Eu achei muito legal você ter me levado pra assistir aquele filme. Eu tinha visto minha irmã combinando com o namorado dela para assistirem juntos. Era estranho porque ela sempre falou pra minha mãe os filmes que queria assistir, mas esse ela combinava tudo escondido. Você já fez aquilo?
Tive que fechar a boca para o coração não sair por ela, tal a violência que foi acometido a bater. As palavras não saíam, mas com muita dificuldade, gaguejando, disse que não.
- Eu já tinha visto minha mãe fazendo, mas não era bonito que nem no cinema.
Ela estava falando de sexo! Eu e uma menina de doze anos falando da coisa mais almejada por um menino. Elas também falam disso!!!
- A chuva tá forte, né?! – foi a única coisa que pude dizer.
- Você gosta de mim? – perguntou ela, virando-se bruscamente e olhando nos meus olhos escondidos pela penumbra.
Meninos não estão preparados para responder a esse tipo de pergunta e eu não fugia à regra. Sorri e somente nesse momento pude olhar para ela e ver sua roupa colada no corpo; a chuva me mostrava que ela já tinha pequenos seios, que já não era tão menina assim.
- Se você não gosta, não tem problema.
- Você tem visto a chuva? – foi o que me veio à cabeça naquele momento.
Ela não entendeu e muito menos eu. Não precisou, na mais pura inocência, nossos rostos foram se aproximando e nossos lábios se tocaram pela primeira vez.
Um beijo... estávamos nos dando um beijo! Nesse momento perdemos a noção de tempo e espaço e permanecemos nos beijando até que a chuva parasse.
Fomos para nossas casas e nada mais aconteceu. Ela mudou-se com a família e, muitos anos depois, nos encontramos na saída de um cinema, nos olhamos e fomos nos aproximando lentamente, como se revivêssemos uma situação perdida do passado. Ao seu lado havia um homem e, ao meu, outra mulher. Olhamo-nos profundamente e apenas uma pergunta me ocorreu naquele momento:
- Você tem visto a chuva? Ela não sorriu e eu já não sorria há muitos anos.


sábado, novembro 11, 2006

AS IMAGENS DE "DELÍRIOS BLUES"

A reestréia de "Delírios Blues" serviu para podermos comprovar que estrávamos certos ao optar por aquele tipo de espetáculo focado ao público jovem.
Nas sessões que seguiram, sala lotada e, de fato, o público delirava. As opções da direção funcionaram perfeitamente e conseguimos apresentar um "vídeo clipe ao vivo", como propusemos.
Mas a montagem teve um alto preço: a produção era grande demais para ser encenada em qualquer teatro.
Depois da reestréia ela iria entra em cartaz em São Paulo, no Centro Cultural, mas como havia música ao vivo, e muito "pesada", tivemos problemas e não foi possível...
Depois, fomos para o Rio de Janeiro e havíamos acertado uma temporada na cidade, no entanto, mais uma vez, o tamanho da produção a inviabilizou...
"Delírios Blues" foi um sonho grande demais para os padrões de produção que tínhamos... no entanto, o mais importante nessa montagem foi a ter a certeza de que através daquela linguagem seria possível alcançar o público jovem...
Também, não posso deixar de lembrar das interpretações fantásticas de Isabel Cristina, Sandey Luís e Claudinei Brandão... Eles acreditaram no projeto desde o início e deram vida aos personagens que eu havia criado...
A direção segura de Massayuki também pode ser considerada como um dos fatores que possibilitaram com que "Delírios Blues" tivesse a cara que idealizamos... Bem, como havia dito, depois dessa peça acabei produzindo mais alguns textos com temática adolescente, mas os personagens de "Delírios Blues" talvez tenham crescido e sido revividos em outra peça minha com um triângulo amoroso: "Violência"... mas sobre essa falarei mais pra frente...
Queria deixar de recordação uma parte do texto que foi muito difícil de ser dirigida, mas que teve uma beleza cênica impensável... mérito para Massayuki:

UM FOCO DE LUZ ACENDE SOBRE CABELO, QUE ESTÁ SENTADO, ENCOSTADO NO ANDAIME (BEM ABAIXO DE PRETO)...

CABELO - Eu cansei de pedir. Enquanto pedia, todo mundo cuspia na minha cara. Quando passei a arrancar tudo a força, passaram a me respeitar! O Cabelo do inferno rouba até seu pai... o Demônio! (gargalha) (apaga o foco de luz)
PRETO - Essa noite podia ser bem longa pra gente se vingar de todo mundo. Até quem não tivesse culpa. (apaga o foco de luz)

UM FOCO DE LUZ ACENDE SOBRE VERMELHA, EM PÉ, NO CANTO DO PALCO, ONDE CABELO ESTAVA NO COMEÇO...

VERMELHA - Da polícia! (apaga o foco de luz)
CABELO - (acende o foco de luz) Do leiteiro! (apaga o foco)
PRETO - (acende o foco) Da padre! (apaga o foco)
VERMELHA - (acende o foco) Do camelô! (apaga o foco)
CABELO - (acende o foco) Do barbeiro! (apaga o foco)
PRETO - (acende o foco) Do presidente! (apaga o foco)
VERMELHA - (acende o foco) Da cafetina! (apaga o foco)
CABELO - (acende o foco) Do costureiro! (apaga o foco)
PRETO - (acende o foco) Do indigente! (apaga o foco)

CONFORME CONTINUAM FALANDO, DEVIDO A RAPIDEZ, OS FOCOS DE LUZ NÃO CONSEGUEM ACOMPANHÁ-LOS; COM ISSO, AS LUZES FICAM “PISCANDO” E “CORRENDO” ATRÁS DE QUEM ESTÁ FALANDO...

VERMELHA - Da santa!
CABELO - Do santo!
PRETO - Da igreja!
VERMELHA - Do demônio!
CABELO - Do diabo!
PRETO - Do inferno!
VERMELHA - Do céu!
CABELO - Do mar!
PRETO - Da terra!
VERMELHA - Do pai!
CABELO - Do filho!
PRETO - Do espírito santo!
VERMELHA - Da miséria!
CABELO - Da fome!
PRETO - Da dor!
VERMELHA - Do sangue!
CABELO - Da doença!
PRETO - Da dor!
VERMELHA - Da dor!
CABELO - Da dor!
PRETO - Da dor!
VERMELHA - Do meu pai! (o foco de luz fica aceso nela)
CABELO - Do meu pai! (o foco de luz fica aceso nele)
PRETO - Do meu pai! (o foco de luz fica aceso nele)
VERMELHA - Da minha mãe!
CABELO - Da minha mãe!
PRETO - Da minha mãe!
VERMELHA - Da falta deles!
CABELO - D’eles existirem!
PRETO - Não nos aceitarem!
VERMELHA - Da vida!
CABELO - Da morte!
PRETO - Da gente!


AS LUZES SE APAGAM.

segunda-feira, novembro 06, 2006

DA ESTRÉIA CAÓTICA À RECUPERAÇÃO

Lembrar de "Delírios Blues" é perceber como um projeto pode ser tão prazeroso e, ao mesmo tempo, caótico! Bom, nossa ambição ao produzir essa peça era de que pudéssemos fazer algo grandioso para, em seguida, seguirmos numa temporada regular em São Paulo e Rio de Janeiro.
No entanto, o tamanho dos nossos sonhos nos levou a caminhos demasiadamente complicados. Primeiramente decidimos fazer a trilha sonora da peça ao vivo, com uma banda tocando sobre os andaimes que compunham o cenário.
Sobre o cenário é preciso dizer que ele era realmente imponente. Vários andaimes de 3 metros de altura sobre o palco para que se parecesse com uma fábrica em construção, ou, quem sabe, sustentando o que daquilo restava... uma carcaça de automóvel... vários latões de ferro... pilhas de jornais... um local muito sujo que lembrava cenários de revistas em quadrinho - nossa inspiração original.
Para que os ensaios transcorressem tivemos que utilizar um galpão... os ensaios musicais sempre foram muito difíceis, no entanto, a banda superou-se e auxiliou na composição dos arranjos das músicas.
Trabalhar com som ao vivo demanda uma aparelhagem muito boa, senão o espetáculo corre o risco de não acontecer. Essa lição demoramos um pouco para aprender.
Para a estréia no teatro Polytheama, em Junidiaí/SP, tivemos mais de 1200 espectadores... um público dificilmente visto para produções teatrais locais ou de fora. A propagando do espetáculo foi perfeita e todos queriam ver "a peça de ação", o "vídeo clipe ao vivo"!
Mas as coisas não saíram exatamente como o esperado. O equipamento de som deu problema e, como os atores também utilizavam microfones durante a peça... foi terrível... Um pesadelo que nunca deveria ter acontecido! Toda a concepção visual do espetáculo foi comprometida pelo problema com o som.
E pensar na dedicação dos atores que treinaram rapel, tirolesa, canto... fizeram preparo em academia para criar as perseguições entre os andaimes... tudo isso deu errado quando o som falhou...
Mesmo assim, eu e o sandey ainda acreditamos no projeto... saíamos que havia sido apenas um problema localizado, que assim que fosse resolvido, teríamos condições de mostrar ao público o grande espetáculo que idealizamos!
Depois da estréia tivemos que parar por algum tempo e o Claudinei acabou entrando em mais uma produção do Parlapatões... era uma perda difícil de substituir porque ele havia criado tão bem o personagem que, ao invés de Careca, tornou-se Cabelo.
Mas em pouco mais de dois meses o espetáculo reestreou e, como eu havia participado de todo o processo de ensaios, acabei assumindo o papel do Claudinei... substituindo-o, mas utilizando toda sua criação...
A estréia foi esquecida e "Delírios Blues" aconteceu!
Essa é uma das músicas mais linda composta pela Isabel Cristina, cantada por Preto e pelo vocalista da banda, Marcelo:

“Quem amou a semente nua
que a rua enlaçou
e fez calar seu canto
e tanto pranto rolou
não bastou... (2x)
Quem sentiu
a veia cheia de veneno e amor
no despertar da flor
rasgada,
suja,
feia,
não conheceu sua cor.
Quem ouviu numa lenta agonia
o soluçar contido da vida vazia e fria
que a noite estancou
não parou...
E amanheceu
o dia, o dia, o dia
mas ninguém notou
e nem poderia entender a dor
mas veria Vermelha,
morta no asfalto,
a flor...”

domingo, novembro 05, 2006

INICIANDO "DELÍRIOS BLUES"

Acredito que terei algumas coisas para falar dessa peça, até porque, ela deu início a um período de minha vida que dediquei-me a textos com temática adolescente.
Eu tinha escrito a sinopse dessa peça em 1994, e também feito algumas cenas... pretendia fazer um musical, mas minhas limitações artísticas não permitiram.
Em 1997, em conversar com o ator Sandey Luís - que havia trabalhado comigo no período que eu fazia parte de uma Cia teatral em Jundiaí -, lhe falei sobre um texto que tinha e que gostava muito, mas ainda escontrava-se incompleto. Na época ele se chamava "Delírios Blues, I Love You!".
O Sandey gostou do texto, mas ainda achou curto... também havia o problema com relação à parte musical... Mas mesmo assim ele resolveu assumir a produção do espetáculo comigo...
Reescrevi o texto, inseri algumas cenas que resolviam as tramas das personagens e, para compor as músicas, convidamos outra amiga antiga, Isabel Cristina - que trabalhara comigo em "Av. Ipiranga, 1972".
Tenho a dizer que ela conseguiu transformar o que eu pretendia em letras maravilhosas... até porque, a angústia das personagens são expressas na parte musical do texto. A partir desse momento, precisávamos de um diretor que pudesse transformar em "teatro" o que havíamos idealizado... em muitos momentos chegávamos a caracterizar nossa proposta de "um vídeo clip ao vivo" ou "uma peça de ação"... Sabíamos que essas caracterizações poderiam gerar muita crítica por parte do meio teatral, mas era o que pretendíamos...
O Sandey havia sido dirigido, pouco tempo antes, por Massayuki Onishi na peça "Palhaços" e o resultado foi explêndido... conversamos com o Massayuki e ele adorou nosso projeto... iria dirigir a peça... Para completar o grupo precisávamos encontrar os personagens que faria Careca e Vermelha... porque o personagem Preto seria interpretado pelo Sandey...
Depois de alguns testes e muita dificuldade, chegamos ao elenco ideal: Isabel Cristina e Claudinei Brandão assumiram os personagens...
Mas o processo foi difícil e merece outras notas... depois falo mais sobre isso...

sábado, novembro 04, 2006

CONTRATO FATAL

Em 1997 fui procurado por uma pessoa que conheci durante o Festival de Teatro de São Paulo - época que apresentei “Dias Difíceis...” -, Fausto Silvester. Ele, na ocasião estava dirigindo uma adaptação de “O Primo Basílio” e convidou-me para assisti-la e conversarmos sobre um projeto que gostaria de desenvolver.
Assisti ao seu espetáculo e, durante nossa conversa, ele disse que gostaria de montar uma peça que fosse completamente diferente de tudo que havia feito até então. Queria uma peça que abordasse relacionamentos atribulados... para apenas dois atores. Até aí não achei nada de novo!
Conversamos bastante e, por fim, ele me fez o convite para escrever "sua peça". Pensei bem e aceitei. Trabalhar com relacionamentos sempre me agradou e, como gostei muito do trabalho de direção do Fausto, aceite.
Ele pediu que o texto tivesse alguns “ingredientes” mais: 1) contato físico entre os atores; 2) bastante “ação”; 3) suspense; 4) sensualidade; e, 5) reviravoltas... Pensei que ele estivesse encomendando um roteiro de filme, mas não, era uma peça mesmo!
Fiz um primeiro tratamento para o texto e enviei para o Fausto... ele gostou mas pediu algumas alterações... ainda não havia conseguido desenvolver todos os “ingredientes” no texto!!!
Lembro-me que fiz mais quatro versões... o Fausto gostou do resultado final e eu achei que havia conseguido criar um thriller para o teatro... Pretensão??? Não sei muito bem, mas o resultado final do texto funcionou e, ainda por cima, tinha o que o Fausto havia pedido!
O projeto entrou em pré-produção e o Fausto contatou bons atores que se comprometeram em participar da peça... Durante as leituras ele percebeu que o clima que havia sido criado no texto conseguia ser mantido em cena... mas ainda havia o desafio de resolver a cena final!!!
Nesse meio tempo fui trabalhar em outro projeto: “Delírios Blues” e o Fausto continuou na captação de recursos... Em vários momentos discutimos sobre como deveriam ser os perfis dos personagens, isso porque, as idades deles podem ser bastante distintas, desde que a direção assim opte... o texto não especifica e sua estrutura funciona bem para dois jovens, um jovem e uma mais velha, ou mesmo, uma jovem e outro mais velho...Bom... infelizmente a peça acabou não sendo encenada, mas as leituras demonstraram que ela tem amplas possibilidades... no entanto, ainda faria outro trabalho com o Fausto... uma das pessoas que melhor entendeu meus textos!

sexta-feira, novembro 03, 2006

UMA HISTÓRIA DE AMARGAR

“Uma História de Amargar” devo, em grande parte, a meu amigo Claudinei Brandão. Em 1997, quando ele já trabalhava com os Parlapatões, nos encontramos e ele disse que gostaria de montar uma peça para si e outro amigo.
Na verdade, sua proposta era que eu escrevesse um texto que pudesse ser encenado na rua, até porque, a intenção dele era apresentar “em qualquer lugar”. Eu não gosto muito de peças interativas, mas ele disse que gostaria que essa o fosse, porque esse tipo de encenação é a que mais chama a atenção do público. Conheci o outro ator que seria seu par e a primeira impressão que tive foi de que seria uma dupla “peso pesado”!
Pensando nisso, e no aspecto popular que ele queria que eu incutisse no texto, comecei a imaginar saídas para desenvolver a trama. Não estava sendo muito feliz nisso! Parecia que não seria capaz de desenvolver aquele tipo de linguagem.
Apesar de estar escrevendo para o outro ator (que não me lembro o nome), em todo o momento eu pensava no Gerson de Abreu (naquela época ainda estava vivo) para ser parceiro do Claudinei.
Enrolei o quanto pude para iniciar a redação do texto, o Claudinei tinha pressa e queria dar início à produção. Como eu não conseguia saber muito bem como desenvolveria a trama, cada vez que ele me ligava e perguntava como estava o texto, eu, para não confessar que não andava para lugar algum, inventava o desenvolvimento do trama.
Ele me perguntava como iria resolver tal cena e eu inventava algo na hora... às vezes discutíamos saídas melhores, às vezes conseguia satisfazê-lo com minha opção... Só sei que assim que desligava o telefone, corria para o computador e escrevia uma parte do texto.
Quando consegui conclui-lo, o Claudinei acabou assumindo outra produção do Parlapatões e não pôde fazer “Uma História de Amargar”... teríamos que adiar mais uma vez nossa pareceria em um texto meu!
O mais interessante nesse texto, que conta a história de dois trambiqueiros que acabaram de fugir de uma cidade carregando apenas uma carroça, é a possibilidade que existe de os dois duplicarem seus papéis interpretando dois outros que estão presos na carroça. A linguagem é bastante acessível para poder alcançar qualquer público e a trama é uma grande piada.Gostaria muito que esse texto fosse encenado pelo Claudinei Brandão e Jô Soares... seria uma dupla de peso e a altura da proposta... quem sabe em breve isso venha a acontecer!

quinta-feira, novembro 02, 2006

OS ESQUECIDOS

Gostaria muito que essa peça estivesse ao nível do grande filme de Buñuel, no entanto, a semelhança com meu texto se resume ao nome.
"Os Esquecidos" foi escrito em uma noite. Comecei a fazê-lo como se, de fato, estivesse ouvindo a conversa entre os dois personagens - Guel e Reginho.
A história é bem simples: após uma acidente aéreo, os dois únicos tripulantes tentam encontrar maneiras para continuarem vivos. As discussões entre eles se alternam. Em alguns momentos um acredita que será possível sair vivo dali, no seguinte já não acredita na salvação.
A trama se desenvolve até chegar ao climax onde uma revelação é feita.
Por duas vezes essa peça entrou em pré-produção, no entanto, ainda não foi montada. Tive a oportunidade de conversar com as pessoas que adquiriram os direitos para a montagem do texto na época e, meu maior questionamento se dava no sentido de saber o porquê de eles terem escolhido justamente esse texto.
A resposta nem sempre era simples de ser dada... por alguma razão não muito objetiva, a conversar e os dilemas dos personagens eram os fatores que mais chamavam a atenção.
Algum tempo depois de ter escrito o texto, um amigo muito próximo o leu e perguntou-me o porquê de eu ter feito um texto tão pessoal. Naquele momento não havia entendido como ele chegara àquela conclusão. Ele, que conhecia muito minha vida e minhas peças, disse: "parece que você está conversando com seu irmão!". Ele havia morrido alguns meses antes...
Acredito que tenha sido a última conversa que não tive com meu irmão... uma discussão sobre temas que nunca foram colocados à mesa... Mas, antes de tudo, é uma peça que gostei da maneira como desenvolvi o texto... espero que em breve possa vê-la montada!

GUEL CORRE E SENTA-SE NOVAMENTE NO ALTO...

REGINHO - Você tá mais calmo?
GUEL - Igual.
REGINHO - Vê se consegue enxergar alguém por aí.
GUEL - (desiludido) Eu nem sei quanto já fiquei aqui esperando enxergar alguém.
REGINHO - Quem sabe não vai ser hoje.
GUEL - Por que hoje?
REGINHO - Porque não foi ontem.
GUEL - E nem será amanhã.
REGINHO - Se você tá tão desanimado assim, então por que olha?
GUEL - (amargurado) Porque ainda não fiquei cego.
REGINHO - Você se importa se eu subir aí com você?
GUEL - Você nunca gostou de lugares altos.
REGINHO - Tudo bem, se você não quiser...

GUEL - Faça o que quiser.

REGINHO SOBE CUIDADOSAMENTE E SENTA-SE AO LADO DE GUEL...

REGINHO - Daqui você tem uma boa visão de tudo.
GUEL - Que não me serve pra nada.
REGINHO - Basta pela beleza.
GUEL - Há muito tempo que isso deixou de ser belo.
REGINHO - Então foi algum dia.
GUEL - Num passado remoto.
REGINHO - Por que você não tenta reviver esse passado?
GUEL - Pra quê?
REGINHO - Talvez seja melhor pra você.
GUEL - Não vejo no que melhoraria minha vida.
REGINHO - Você deixaria de ser tão amargo e poderia enxergar alguma saída nesse marasmo que nos encontramos.
GUEL - Não há saída, vamos morrer.
REGINHO - Mas isso te preocupa tanto?
GUEL - Acho que sim.
REGINHO - Como?
GUEL - Deve doer muito.
REGINHO - O que mais te assusta na morte?
GUEL - A dor.
REGINHO - A dor na carne?
GUEL - A dor simplesmente... de toda maneira que ela possa se manifestar.
REGINHO - E se não houver dor?
GUEL - Sempre haverá.
REGINHO - Como você sabe?
GUEL - Eu sinto.
REGINHO - Você sente a dor da morte?
GUEL - É uma dor sem nome, apenas dói.
REGINHO - Vai passar.
GUEL - Quando, se desde que chegamos aqui ela só faz doer ainda mais?!!!
REGINHO - Mas vai passar.
GUEL - Só se for quando eu morrer.
REGINHO - Você não vai estar sozinho.
GUEL - Eu sinto que nós estamos cada vez mais distantes.
REGINHO - (abraça Guel) A gente vai sair daqui juntos!
GUEL - Você ainda acha que a gente sai daqui?
REGINHO - Não sei se isso tem tanta importância.
GUEL - Parece que você já se conformou com a morte.
REGINHO - Eu não tenho medo dela.
GUEL - Nem da dor?
REGINHO - Mas que dor é essa?
GUEL - Uma dor latente e crescente.
REGINHO - Pois eu não tenho medo dela.
GUEL - Eu não gostaria de senti-la.
REGINHO - Mas é inevitável?
GUEL - A dor sempre vai arder!
REGINHO - E não tem jeito de evitar?
GUEL - Não morrendo.
REGINHO - Nós estamos vivos!
GUEL - Até quando?


REGINHO SOLTA O BRAÇO LENTAMENTE DOS OMBROS DE GUEL E VAI SE AFASTANDO... PERMANECEM SENTADOS DISTANTES, OLHANDO PARA FRENTE...

UM TEMPO NO TEATRO

Depois de ter escrito “Adeus, meninos” fiquei um bom período sem escrever peças. Durante o ano de 1996 trabalhei na recém-criada TV Educativa de Jundiaí. Vislumbrei a possibilidade de voltar a trabalhar com vídeo e aproveitar minha experiência dramatúrgica para a nova TV. Na primeira reunião que tive com o diretor da TV fiz uma proposta desafiadora a ele: que me deixasse produzir uma série de comerciais institucionais que, se o resultado não fosse satisfatório, não precisaria nem me pagar pelos serviços. Mas eu gostaria de ter a possibilidade de roteirizar, produzir e dirigir os comerciais. Ele aceitou. Fui incumbido de criar uma campanha de prevenção à AIDS, mas não queria que os comerciais se parecessem com os que estavam sendo vinculados à época, assim, criei um roteiro como se tivesse escrevendo um curta-metragem e convidei o ator Sandey Luís para interpretar meu personagem. O resultado foi muito melhor do que havia projetado. A equipe que trabalhou comigo aceitou minha proposta diferenciada da linguagem jornalística que utilizavam e colaborou muito na gravação. Por utilizar uma linguagem de ficção, o editor do comercial também deu seu toque ao produto final quando imprimiu uma edição ainda mais dinâmica. O segundo comercial para a campanha foi gravado num hospital e contei com a colaboração de vários atores que havia trabalhado no meio teatral. Eles, novamente, foram a diferença para que o comercial tivesse uma carga dramática distinta. Os comerciais foram ao ar e o resultado alcançou todas as expectativas... quando eu partiria para a gravação do terceiro comercial da campanha e já havia apresentado um projeto para fazer um documentário sobre o teatro jundiaiense e outro sobre a Floresta do Japi, problemas políticos retiraram o diretor da TV de seu posto e, juntamente com ele, deixei a TVE.Foi uma breve passagem pela TV, mas que ampliou meu conhecimento técnico sobre o meio e estimulou-me a criar outros projetos... pena que ainda continuam engavetados!

quarta-feira, novembro 01, 2006

OS CONVIDADOS DO SR. BRASIL

Realmente, estabelecer uma cronologia exata dos eventos não é minha melhor qualidade. Digo isso porque esqueci de falar de um espetáculo que já teve duas montagens distintas, uma dirigida por Claudinei Brandão (1994) e outra por Vall Carthon (1997).
É mais um besteirol. Mais uma história muito engraçada com a presença de uma empregada que rouba a cena, Socorro. A trama é bastante simples: haverá uma recepção na mansão do Sr. Brasil e ele contrata um serviço de buffet para responsabilizar-se pelo evento.
A peça se passa na copa da mansão, enquanto trabalham para o Sr. Brasil, a empregada Socorro, seu ex-marido Emergêncio, seu irmão e mais a cunhada, também acabam utilizando o local para resolver seus problemas pessoais.
Acredito que minha intenção tenha sido mostrar que, mesmo diante do caos que acomete a vida dos funcionários do buffet, eles têm jogo de cintura suficiente para controlar a situação e, no final, nem o Sr. Brasil ou seus convidados percebem como tudo transcorreu na copa. Até caberia uma análise sociológica mais profunda, mas deixo para que o público a faça na próxima montagem...Queria dizer, também, que a montagem de Vall Carthon, que estreou na cidade do Guarujá, surpreendeu-me muito por ter ampliado a leitura de alguns aspectos do texto, mas em ambas, o sucesso deu-se devido ao humor simples e direto