quarta-feira, outubro 25, 2006

AVENIDA IPIRANGA, 1972

Enquanto as apresentações de “Dias Difíceis...” transcorriam pelo ano de 1993, os dois atores que faziam parte do elenco da peça e também participavam do recém-criado Grupo Teatral Jundiaí Presente, convidaram-me para assistir a um ensaio do grupo e conhecer sua diretora, Kátia Zanatta. Ela pretendia que sua companhia estreasse com uma peça bastante engraçada e que tivesse alguns aspectos místicos. Discutimos sobre a quantidade de personagens que ele queria e como deveria ser a história, ficamos boas horas falando sobre como seria a peça.
Ao final da conversa ela me convidou para escrever a peça. Em princípio pensei em não aceitar, disse a ela que não entendia nada de misticismo, tampouco gostava do tema. Ela insistiu e eu aceitei.
Logo no primeiro tratamento do texto percebi que seria impossível fazer o que ela pretendia. Cheguei a escrever um texto que se passava durante na década de 1970, numa boate decadente da Av. Ipiranga, em São Paulo. No entanto, nesse mesmo ambiente havia um plano paralelo com personagens semelhantes, mas vivendo dramas espirituais. Nunca tinha escrito algo tão brega!
Mostrei o texto para a Kátia, ressaltei o quanto era rim e já dei a solução para ele: se ela quisesse que a peça alcançasse o público, que fosse suprimida toda a parte mística. Ela não gostou muito da idéia, mas depois que leu o texto percebeu que a proposta dela era muito ruim. Ainda discutimos um pouco mais, mas alguns dias depois eu apresentei uma versão do texto somente com a parte realista, e ele ficou encantada!
Enquanto o grupo ensaiava “Av. Ipiranga, 1972”, eu continuava com “Dias Difíceis...” em cartaz. Depois de algum tempo o grupo foi me procurar pedindo para que eu assumisse a direção de “Av. Ipiranga”. Relutei um pouco, mas depois de conversar com a Kátia, aceitei.
Estreamos em Jundiaí e o espetáculo foi um sucesso de público, uma comédia de costumes muito engraçada. A grande infelicidade aconteceu na semana seguinte, quando a Kátia sofreu um acidente de moto e veio a falecer.
Ainda abalados pela perda, mas pensando em continuar seu projeto, convidamos a atriz e amiga da Kátia, Isabel Cristina, para substitui-la. A peça continuou sua carreira e participou de vários festivais. Onde havia votação de júris populares a peça foi muito bem recebida, também ganhou alguns prêmios.Uma das marcas mais fortes da peça foi a caricatura dos personagens que ilustrava o cartaz. Meu grande amigo Eduardo Berol – hoje um grande advogado em Jundiaí – presenteou o grupo com sua versão dos personagens.

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