"Av. Ipiranga, 1972" é uma peça de época, uma comédia simples e que fazia o público rir... rir muito... mas em um determinado momento, quando as personagens de Fernanda Costa (Laura) e Lívia Brigoni (Camila) não conseguiam dar mais um golpe, faziam uma pergunta para o garçom Valente (Felipe Nonato), e uma das partes mais inusitadas da peça começava... um discurso que, por não ter qualquer significado objetivo, fazia o público rir ainda mais... é claro que esse discurso só alcançou o público daquela maneira devido à interpretação de Felipe... sempre muito inspirado... Nessa foto acima, outra cena muito engraçada do personagem, com Isabel Cristina (Meire Blue) e Elaine Braga (Cida)...
Presenteio vocês com o discurso de Valente:
LAURA - Valente, você já se viu desamparado no mundo?
VALENTE - (senta à mesa) Foi um dia, Dona Laura Maria.
CAMILA - Mas Valente, não é triste ver uma criancinha indefesa, como eu, ter que passar por tanta dificuldade?
VALENTE - Então, (toma um gole da bebida de Laura) é triste. É uma tristeza tristézima que vem entristecendo a tristeza e parece que nunca mais vai embora, mas de repente, o dia não acorda, porque nem sempre, a hora que o relógio toca pode interromper a vida das criaturas melancólicas que persistem em anda pelas ruas da nobre e enfeitiçada que, antes de ser a mais caótica de todas, servia para aliviar as tristezas que sempre surgiam diante dos olhos das pessoas que ficavam magneticamente paradas diante da amargura e do sofrimento que, por mais que se diga não, sempre que dá um espaço, ele, mesmo sem notar, quer saber se o novo amanhã é realmente algo para se pensar numa fase posterior de reencarnação, ou, se diante da neblina escura que vai tomando conta dos nossos quintais... será que ainda é possível pensar numa nova esperança de vida? Ou será que as crianças que plantaram o feijão, dentro do copinho de iogurte com algodão e água, sabem que, mesmo que a noite caia, não vai adiantar mostrar pra mamãe o retrato da menina mais bonita da classe, porque, diante da tristeza acondicionada na garrafa de bebida barata, as novas reflexões políticas que ainda virão, não poderão substituir a força da palavra, que, por mais que se cale diante do grito, ainda ecoará nas lembranças dos pobres infantes, que, na primeira noite de melancolia e dor, não voltaram para a casa sem antes duelar com as forças que queriam se sobressair à vontade do povo, mesmo que, por mais de oito vezes, quem podia, voltou para a pequena capela, dentro da rua que ficava ao lado da praça, que as crianças, ainda inocentes, brincavam nos dias de sol em que Deus privilegiava a beleza do inconsciente coletivo... sabendo que noutra vida posterior não haveria mais tranqüilidade para que alguém pudesse divulgar suas idéias e convicções políticas, não sendo mais que uma mera e pura ideologia barata. (olha para Camila) É triste! (toma mais um gole da bebida de Laura)
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