sábado, outubro 28, 2006

DESPEDINDO DA "AVENIDA IPIRANGA"

Por tudo que a montagem de "Av. Ipiranga, 1972" me proporcionou, pensei que deveria fazer uma homenagem aos atores no dia da última apresentação. Pensei muito em como fazer, até que decidi que faria uma narração final narrando como seria o futuro de cada personagem. A peça terminava com o "congelamento" dos atores e as luzes baixando, então, pedi para a atriz Fernanda Regia gravar um off para mim e somente nós dois e o operador de som, Leonel Benatti sabiam da surpresa. Assim que foi dita a última fala, o Leonel colocou a música "With a little help to my friend" e entrou a narração da personagem da Fernanda (Laura) fazendo seu relato... Todos ficaram muito emocionados e começaram chorar em cena, mas sem poderem se mexer porque as luzes baixaram mais lentamente ainda...
Talvez não seja tão interessante para quem não viveu todos aqueles momentos juntos, mas esse foi o relato que usei na despedida:

Não sei quantas vezes ainda fomos à boate... um dia chegamos... portas fechadas... nenhum bilhete.
Soube, depois, que a Nenê e Guilherme desistiram de tudo e saíram num cruzeiro pelo mundo... sem data para voltar.
Durante muito tempo Valente ia toda manhã à boate para trabalhar... sentava a sua porta... esperava alguém ou alguma bebida... e nada. Levantava e ia embora, na esperança de que no dia seguinte tudo voltaria ao normal.
Meire Blue, ou melhor, Mary Blue... mudou seu nome e sua vida, foi para a Broadway, fez sucesso e nunca mais voltou... esqueceu de todos... dizem que hoje, nem mais sabe falar português.
Pedrão, após algum tempo, recuperou-se, mas nunca abandonou sua postura de militante. Hoje é um deputado que ainda luta por seus ideais... só que com outras armas!
Cida perdeu o encanto por Carlinhos e casou-se com um playboy do Guarujá. Levou tudo, até os trigêmeos... que logo após, Carlinhos descobriu não serem seus os filhos. A partir daí, o Boqueirão nunca mais foi o mesmo. Ele, que já havia abandonado a vida de conquistador para casar-se com Cida, agora abandonava de vez a vida. Perambulou pela praia por vários dias, sentou na areia e morreu olhando o mar!
Tanto tempo de procura e tudo tão próximo... pelo menos para Camila, que, após uma vida de emoções e buscas, se encontrou ao lado de seu marido... cuidando de sua casa e de sua filha Patrícia. Indo ao supermercado, à escola, ao parque de diversões... sendo feliz!
Eu? Continuo procurando, procurando e me procurando, pois se tivesse me encontrado, perderia o mundo que vivi... e sei que hoje não tenho mais capacidade para outro. Resta-me agora apenas me esconder atrás de fotos e recordações de uma Av. Ipiranga, 1972!
(Narração após a última apresentação da peça em 16/10/1994)

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